O diabetes e suas complicações

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O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica metabólica de etiologia diversa caracterizada pela hiperglicemia, associado a uma deficiência absoluta ou relativa na produção, secreção ou ação da insulina, capaz de interferir no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas.¹ 

Atualmente, o Diabetes é considerado um problema de saúde pública global, e suas complicações estão se tornando rapidamente a principal causa de morbimortalidade do mundo. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2019, a prevalência de indivíduos diagnosticados com DM na população global na faixa etária entre 20 a 79 anos foi de 463 milhões de pessoas. Diante disso, a IDF estima um aumento de 51%, ou seja, que em 2030 seja de 578 milhões e em 2045, cerca de 700 milhões de pessoas convivendo com diabetes no mundo.² Hoje, o Brasil encontra-se na quarta posição na classificação mundial dos países com o maior número de indivíduos com DM e estima-se 14,3 milhões de pessoas. Diante dessa realidade, ressalta-se a relevância do desenvolvimento de políticas públicas de saúde e de estratégias no que tange à prevenção, tratamento e reabilitação das pessoas com Diabetes Mellitus.²   

Pé Diabético: Fisiopatologia e Classificação  

O pé diabético é uma das mais recorrentes complicações provenientes da instabilidade glicêmica e é caracterizado pelas lesões ulcerativas (UPD) decorrentes de uma série de alterações circulatórias, infecciosas ou destruição de tecidos profundos, relacionado a diferentes estágios de comprometimento neurológico, tais como neuropatia diabética e também associado a doença vascular periférica, capazes de favorecer o desenvolvimento de ulcerações de difícil cicatrização pela condição sistêmica pré-existente. É importante salientar que, essas lesões quando não tratadas adequadamente, podem levar à amputação do membro.³  

As alterações de ordem neurológica e vascular em extremidades, provocadas pelo quadro de DM, produzem distorções na anatomia e fisiologia normais dos pés. A alteração do trofismo muscular e da anatomia óssea dos pés provoca o surgimento dos pontos de pressão, enquanto o ressecamento cutâneo prejudica a elasticidade protetora da pele e o prejuízo da circulação local torna a cicatrização mais lenta e ineficaz. Em conjunto, essas alterações aumentam o risco de úlceras nos pés, podendo evoluir para complicações mais graves, como infecções e amputações.³ 

O pé diabético pode ser classificado, segundo sua etiopatogenia, em: Neuropático, Vascular (também chamado isquêmico) e Misto (neurovascular ou neuroisquêmico). Na neuropatia diabética periférica, todas as fibras: sensitivas, motoras e autonômicas, são afetadas e caracterizadas pela perda progressiva da sensibilidade.  Os sintomas mais frequentes são os formigamentos e a sensação de queimação, redução da sensibilidade à dor, à vibração e à temperatura, hipotrofia dos pequenos músculos interósseos, ausência de sudorese e distensão das veias dorsais dos pés. A diminuição da sensibilidade pode apresentar-se como lesões traumáticas indolores. Já o pé isquêmico caracteriza-se tipicamente por história de claudicação intermitente ou dor à elevação do membro; o pé apresenta-se frio, podendo haver ausência dos pulsos tibial posterior e pedioso dorsal4.   

Epidemiologia do Pé Diabético  

No que diz respeito a complicações relacionadas ao pé diabético, as úlceras plantares apresentam 25% de chance de desenvolvimento ao longo da vida. A população diabética, a nível nacional, representa aproximadamente de 40% a 70% das amputações não traumáticas de membros inferiores, acrescenta-se ainda o fato de que 85% das amputações precedidas por lesões ulcerativas podem ser prevenidas a partir de estratégias voltadas a prevenção, diagnóstico e tratamento precoce, bem como a atuação do profissional de saúde fundamentado em ações de educação em saúde e conscientização da população.²  

Estratégias de Prevenção  

Estudos têm provado que a taxa de amputação pode ser reduzida em mais de 50% se as seguintes estratégias forem implementadas: Inspeção regular dos pés e calçados durante as visitas clínicas do paciente; tratamento preventivo para os pés e com os calçados para pacientes com pé em alto risco; cuidados com os calçados; abordagem multifatorial e multidisciplinar de lesões já estabelecidas; diagnóstico precoce de doença vascular periférica e intervenção vascular; e acompanhamento contínuo dos pacientes com úlceras prévias nos pés e registro de amputações e úlceras.5 

É importante a realização do exame físico, além da avaliação do teste de sensibilidade. Ao exame físico fazer: avaliação dos pulsos; realização do ITB; classificação do pé diabético de acordo com a escala de avaliação; e avaliação dos pés (sensibilidade e motora).5  

A avaliação da neuropatia periférica pode ser realizada através de testes neurológicos não invasivos, como:6 

  • Sensibilidade dolorosa: pinos, agulha ou palito 
  • Sensibilidade tátil: chumaço de algodão 
  • Sensibilidade térmica: tubo de ensaio com líquido quente e frio 
  • Sensibilidade vibratória: Diapasão de 128 Hz 
  • Sensibilidade motora: com martelo de Buck 
  • Limiar de percepção cutânea: monofilamento de 10gr 

 

REFERÊNCIAS   

  1. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília, 2013. 
  2. IDF – International Diabetes Federation. IDF Diabetes Atlas. 7ed.,2015. Disponível em http://www.diabetesatlas.org Acesso em 13-11-20. 
  3. Helfand AE. Podiatric medicine and public health. Concepts and perspectives. Special Commission of the Podiatric Health Section of the American Public Health Association. J Am Podiatr Med Assoc. 1998 Jul;88(7):353-9. doi: 10.7547/87507315-88-7-353. PMID: 9680773. 
  4. SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2017-2018. São Paulo: Clannad; 2019-2020. SEABRA, A.L.R. 
  5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual do pé diabético: estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016 . 
  6. CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO/ publicado sob a direção de Hermelinda Cordeiro Pedrosa; tradução de Ana Claudia de Andrade, Hermelinda Cordeiro Pedrosa Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2001.  

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